10 de março de 2025

PAIXÃO DA VERDADE UNA E IMUTÁVEL

São Pedro duvidou quando caminhava sobre as águas, e foi resgatado por Nosso Senhor

 

Nos idos de 1960, um dos discípulos de Plinio Corrêa de Oliveira enviou-lhe uma missiva e recebeu uma carta-resposta com sapienciais recomendações para uma autêntica vida espiritual e intelectual. Elas valem para todos os católicos e são de suma utilidade. Para proveito dos nossos leitores, segue a sua reprodução. Antes, porém, um conselho: faça a leitura como se fosse uma carta dirigida a você.

____________

Meu caro amigo,

Salve Maria!

Li com muita simpatia a carta que você me enviou.

Não me leve a mal se eu lhe disser que não pude deixar de sorrir, ao ver que você queria ser um homem como eu. Garanto-lhe, com a maior sinceridade, que você não lucraria nada com isto, muito pelo contrário. Se eu lhe posso desejar algo de bom, será exatamente que isso não aconteça. Além do mais, cada um de nós tem uma personalidade única e inconfundível, e é chamado por Deus para realizar um ideal próprio de perfeição. De nós se exige uma fidelidade à verdade que há em nós, e que é o único caminho para atingir a verdade de todos nós.

Por falar em verdade, chegamos aqui ao ponto crucial de tudo o que você me diz em sua carta. O mundo está cheio de filósofos e de escritores, porém só há uma coisa que justifica a existência de uns e outros: a paixão da verdade. Sem esta paixão, livros e filosofias nada mais são do que vaidades, perigosíssimas vaidades que acendem o fogo na Terra e atiçam as labaredas do inferno.

Quem tem a paixão da verdade está disposto a despojar-se de si mesmo, sem qualquer restrição. Sacrificará as mais sedutoras ideias, os mais engenhosos sistemas, as mais profundas e luminosas elucubrações, as mais caras intuições, as satisfações mais elevadas da inteligência, e, por fim, as formulações mais cativantes e as imagens mais esteticamente felizes, para austeramente procurar e manifestar a verdade, só a verdade, que é sempre dura para a nossa condição humana, por causa de sua essencial transcendência.

E não é só. A verdade nunca foi muito estimada pelos homens, sendo positivamente desprezada em nossos dias. A verdade é una e imutável, mas os homens amam o espetáculo variegado das aparências que se sucedem; a verdade é eterna, mas os homens seguem as modas; a verdade é séria e os homens são frívolos; a verdade aponta o dever, ao passo que os homens querem os prazeres; enfim, a verdade é rija e os homens não têm fibra.

Portanto, quem tem a paixão da verdade se expõe, necessariamente, à antipatia dos homens, mas preferirá a verdade aos bens temporais, à carreira, ao renome e à própria reputação. Será perseguido e acusado por aqueles que prostituem a verdade fazendo dela um simples instrumento da sua enfatuação e cobiça.

Mas ainda não é tudo. A paixão da verdade pode levá-lo a silenciar anos a fio, enquanto os outros se alçam perante a opinião e a crítica, pela sua produção de obras literárias e filosóficas. Ele, no entanto, permanecerá calado, até que surja o único motivo que o fará manifestar-se: dar testemunho da verdade.

Diante do que acabo de dizer, você poderá retrucar que eu, em lugar de indicar o caminho da filosofia, indiquei o da santidade. É fato. Apenas quero salientar que, para quem tem a vocação dos estudos filosóficos, a perfeição espiritual se chama paixão da verdade. Para nós, católicos, a verdade não é apenas uma questão epistemológica ou metafísica, é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo de Deus que se encarnou para nos salvar.

*   *   *

E agora que chegamos a esta altura, podemos derivar as conclusões, para responder às questões particulares que você me propõe em sua carta.

A primeira é que não deve haver distinção entre sua vida espiritual e a sua vida intelectual. Uma vez que você diz querer em tudo fazer a vontade de Deus, e se julga com vocação para os estudos filosóficos, então não se preocupe com o futuro, nem como haja de ganhar a vida: cumpra conscienciosamente os seus deveres e espere na Providência. Tenha confiança, Deus não esquece aqueles que O servem.

Porém, Ele costuma provar a confiança de seus servos. Quando isto lhe acontecer, não se suponha abandonado: são os caminhos normais da Providência. Quando tudo parecer perdido ou comprometido, aí virá a solução. Contudo, não espere soluções definitivas. Ficará sempre certa margem de incerteza e risco. Isto também é necessário, porque Deus quer que confiemos só n’Ele, e não nos arranjos humanos.

Por outro lado, não podemos perder de vista que somos exilados neste mundo, e que a vida presente é provisória e precária. Por isso não há, nem devemos desejar, situações definitivas nesta Terra. Devemos viver de fé, e a fé necessariamente é obscura, pois tem por objeto o que é invisível e inacessível à razão natural. São Pedro, caminhando sobre o mar tempestuoso, é a imagem da vida cristã. Bem sei que este caminho é difícil. É o caminho estreito da salvação, que Nosso Senhor apontou. Não há outro.

Em segundo lugar, no que se refere mais diretamente aos seus estudos, será preciso evitar cuidadosamente qualquer divórcio entre o pensamento e a vida. A filosofia não pode ser tratada como quem resolve um teorema de geometria. Em outras palavras, o filósofo não pode situar-se confortavelmente “fora” da filosofia, e construí-la com elegância e desapego. Pelo contrário, ele, a sua vida, o seu destino, o destino da humanidade, estão visceralmente comprometidos no curso que tomarem as questões filosóficas. O próprio filósofo deve ser o primeiro problema filosófico em jogo, porque é através de seu ser de carne e osso que o filósofo tem os pés na realidade.

Assim sendo, o filósofo não deve apenas possuir uma inteligência aguda e desenvolvida, mas é indispensável que tenha uma personalidade rica, pujante, vigorosa, em que toda a realidade possa repercutir amplamente. Para alcançar esta espessura e profundeza de personalidade, parece-me útil que, além dos estudos propriamente filosóficos, sobre os quais falarei depois, você cultive seu espírito no contato das grandes obras, em que se exprimem certas características fundamentais da alma humana, e cuja frequentação produz um alargamento insuperável da visão de todos os problemas. Virgílio, Dante, Shakespeare, os clássicos franceses, estão dentro desta linha. Não que sejam irrepreensíveis, note bem. Mas em todos eles corre o sopro magnífico, que engrandece o homem.

Também não lhe digo que faça um estudo sistemático de tais obras. Muito longe disto. Não se trata de estudar, de cumprir uma tarefa, mas de gostar, saborear. Entre elas você escolherá a que lhe for mais do agrado. Igualmente, poderá variar, detendo-se ora num trecho de uma, ora numa passagem de outra. A liberdade é completa. O importante é que sejam lidas no original.

Não é só a leitura de grandes obras literárias que conduz ao objetivo visado, mas também a contemplação da grande pintura e a audição da música dos grandes mestres, como Bach ou Haendel. Nisto tudo, porém, cada qual deve seguir a própria inclinação, e eu quero mais sugerir do que influir.

São Luís Maria Grignion de Montfort e Santo Inácio de Loyola


Chegando agora aos seus estudos, devo dizer que compreendo perfeitamente a insatisfação e perplexidade que lhe causam certos autores contemporâneos que se apresentam como tomistas. Esses autores nem são verdadeiramente filósofos nem tomistas, e o melhor que você poderá fazer, pelo momento, é colocá-los de lado. Eles só poderão confundir o seu espírito e lançá-lo em caminhos perigosos.

Quanto a Maritain, não passa de um vulgarizador dotado de qualidades literárias e de nenhuma seriedade científica. Aqueles que o seguem são mentalidades superficiais, que se satisfazem e se embalam com suas fórmulas lírico-metafísicas, que não resistem a uma análise mais detida, pois logo manifestam as imprecisões, dubiedades e equívocos, de que estão prenhes. Quando eu tinha a sua idade, confesso que me deixei seduzir, pois elas exaltavam a minha sensibilidade. Deus, porém, me fez a graça de que eu visse, a tempo, o veneno que continham.

Quando a gente trava conhecimento com os verdadeiros filósofos, fica-se envergonhado das divagações ocas, inconsequentes, bobas e pretensiosas de certos filosofastros pseudotomistas de nossos dias, que outra coisa não fazem senão deformar o tomismo, amoldando-o a todas as últimas modas (que eles nem chegam a compreender), ao mesmo tempo que passam por cima dos mais profundos pensamentos de São Tomás com a mais cândida das incompetências.

Vá diretamente à fonte. Procure familiarizar-se com os textos de São Tomás. Não tenha medo, o Doutor Angélico é mais claro do que qualquer de seus comentadores. Tudo depende de habituarmo-nos ao seu estilo e, o que é mais importante, à sua disciplina. Isto, porém, não será difícil, desde que tenhamos aplicação e humildade.

Para começar, eu lhe recomendaria a Prima, da Suma, e o De Veritate. Da Prima, deixe de lado as questões 2ª, 23ª e 24ª. Quanto ao De Veritate, não vá, por enquanto, além da questão 3ª. Ainda para começar, não se entregue a um estudo sistemático, mas faça como recomendei em relação às obras clássicas. Lembre-se de que ainda não se trata de aprender São Tomás, e sim de familiarizar-se com ele. Por isso, quando algum texto oferecer uma resistência maior à sua inteligência, não insista, mas procure outro mais fácil.

E agora vou fazer-lhe uma observação de maior relevância: a meditação e a reflexão valem mais do que a leitura. Assim, procure, quanto lhe for possível, resolver por você mesmo, em vez de ir procurar as soluções já feitas. Sobretudo, cinja-se exclusivamente aos textos de São Tomás, e não procure ler as notas explicativas que vêm ao pé da página. Quando você estiver assim ambientado ao espírito de São Tomás, então poderemos pensar em outra coisa.

*   *   *

Chegamos, por fim, à última conclusão, que é a de maior peso. O verdadeiro filósofo só é possível se alimentar o seu pensamento e a sua personalidade numa vida espiritual autêntica. Segundo me parece, a melhor base ainda são os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, com o complemento natural da [obra] Imitação de Cristo. De acordo com a orientação que venho dando a estas minhas sugestões, procure, de preferência, só textos originais; e só os textos, nada de comentários. Como a piedade católica é fundamentalmente de inspiração mariana, tenha sempre à mão as excelentes obras de São Luís Maria Grignion de Montfort; todas elas, se isto lhe for possível.

Assim, penso ter respondido da melhor forma que esteve ao meu alcance, e depois de ter pedido a Deus luzes para uma tarefa de tal responsabilidade, as dificuldades que você me apresentou em sua carta. Certamente você encontrará, nesta minha resposta, muitas deficiências: é a parte do homem. Deus, porém, suprirá as falhas, recorrendo você a Ele com confiança.

Antes de tudo, tenha calma e fique em paz. Pareceu-me discernir em sua carta uma certa agitação. Procure não se perturbar. O nervosismo é a água turva em que o demônio faz as suas pescarias; e ele é mestre em irritar os nervos e atormentar as consciências, por meio de imaginações, sugestões, instigações, e também agindo diretamente sobre o corpo, onde causa sensações físicas de mal-estar, angústia, repugnância, palpitação, e o que mais seja. Não se deixe impressionar por nada disto. Olhe em frente, para os Corações de Jesus e de Maria, e vá caminhando sobre as ondas encapeladas, com toda a confiança.

E aqui estamos, eu e meus amigos, à sua disposição, para o que você precisar. Não tenha cerimônias. E não se esqueça de mim em suas orações.

Seu em Jesus e Maria,






8 de março de 2025

Símbolo da vitória de Nossa Senhora contra o demônio

  Plinio Corrêa de Oliveira 

Neste confuso e dramático século, o comunismo internacional ameaça desferir contra toda a humanidade o seu assalto supremo. 

Expressão requintada do orgulho e da sensualidade do homem, o comunismo é uma versão terrena da revolta de Satanás e de seus anjos. 

Com uma habilidade diabólica, procura a propaganda comunista iludir e atrair os ingênuos e os incautos, a fim de os engajar na imensa revolução vermelha, cujo espírito se resume no non serviam de Lúcifer. 

Mesmo que todos os recursos faltem aos que se opõem ao comunismo, a Mãe de Deus não os abandonará. E por Ela serão conduzidos à vitória. Pois contra Ela nada consegue o Poder das Trevas. 
O clérigo Teófilo — conta o Miracle de Théophile — fora embaído pelo demônio, a quem se entregou por meio de um pacto escrito. Porém, caindo em si, recorreu à Mãe de Deus, que impôs ao Maligno restituísse o documento e renunciasse ao poder que adquirira sobre o infeliz. 

No grupo em relevo (tímpano da Catedral de Notre-Dame de Paris) se vê a Virgem Santíssima que, empunhando um gládio, defende Teófilo contra o demônio. Símbolo expressivo da vitória incontrastável de Nossa Senhora sobre toda forma de mal.


__________ 
Texto da contra-capa do livro de Plinio Corrêa de Oliveira, Baldeação ideológica inadvertida e Diálogo (1966), Editora Vera Cruz Ltda, 5ª edição, São Paulo, julho de 1974.

7 de março de 2025

FOTO EM FOCO


Foto: Reprodução/Fox News/Redes sociais

  Paulo Roberto Campos 

Uma imagem retumbante do início deste período de Quaresma foi publicada anteontem. Nela aparecem Marco Rubio (secretário de Estado dos EUA) e Mark Wahlberg (ator de Hollywood). Ambos aparecem com a Cruz bem visível em suas testas, como é tradição católica nos dias de Quarta-Feira de Cinzas — um dia de jejum e abstinência de carne.

O secretário de Estado com a Cruz na fronte foi visto durante uma entrevista à Fox News. E o ator num vídeo que circula em redes sociais. 

A Santa Cruz marcada nas frontes remonta a tempos antiguíssimos nos quais os cristãos cobriam suas cabeças de cinzas em sinal de arrependimento e do desejo de abandonar a vida pecaminosa. Ela simboliza o início de um período próprio a penitências, mortificações, jejuns e orações especiais, que dura 40 dias — do final do Carnaval até à Páscoa, comemorativa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo —, reportando-nos aos 40 dias que Jesus passou no deserto. 

As cinzas simbolizam também que a vida não é infinita; que tudo nesta vida é nada, é passageiro, é frivolidade, é vaidade; que passaremos pela morte; que depois dela vem a eternidade e que precisamos, portanto, arrependermo-nos de nossos pecados, fazermos uma boa confissão, nos converter enquanto é tempo, a fim de estarmos com nossas almas purificadas para o Encontro com Deus no Dia do Juízo Final. 

Donde a tradição secular de marcar com cinzas as frontes dos católicos com a Santa Cruz. No momento de marcá-las — chamado de “rito da imposição das cinzas” — o sacerdote repete as palavras de Deus a Adão: “Memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris” (“Lembra-te homem que és pó e que em pó hás de tornar”, Gênesis 3,19). O que o célebre Padre Vieira assim parafraseava: “Lembra-te, homem, que és pó levantado e hás-de ser pó caído”... 

Essa recordação exposta nas frontes das duas mencionadas personalidades está sendo muito salutar, pois faz lembrar a incontáveis pessoas essas verdades muito esquecidas e, que, com as cruzes ostentadas, não devemos ter respeito humano escondendo a nossa Fé católica.

6 de março de 2025

DE UMA BOMBA NASCEU UM ORATÓRIO

Foto do Oratório Nossa Senhora da Conceição Vítima dos Terroristas, erguido precisamente no lugar onde comuno-terroristas jogaram uma bomba de dinamite em 1969. O alvo foi uma sede da TFP. O ato terrorista comprovou a eficácia da ação anticomunista da entidade. O Oratório se transformou num lugar de vigílias de orações diante dessa imagem danificada pela bomba.


 

Com o nome de Nossa Senhora da Conceição Vítima dos Terroristas, o Oratório se transformou num verdadeiro monumento símbolo da fé e da disposição de resistir às forças malignas 


  Transcrição do editorial da revista Catolicismo, Nº 891, março/2025

Com vigílias de orações do Rosário, que diariamente se iniciam às 19 horas e vai até à meia-noite, duplas de voluntários do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira se revezam no Oratório dedicado a Nossa Senhora da Conceição, com a invocação de Vítima dos Terroristas.

Esse Oratório é visitado pelos paulistas, principalmente pelos moradores dos bairros de Higienópolis e Santa Cecília. Entretanto, muita gente ainda não o conhece. Aqueles que o visitam não o esquecem mais e sempre retornam para levar flores, agradecer favores recebidos, fazer promessas, pedir outras graças. 

Por que Vítima dos Terroristas? 


— Mãos terroristas estouraram uma bomba de dinamite na sede da TFP situada na Rua Martim Francisco, 665, deixando-a parcialmente desmoronada. Eram três horas da madrugada do dia 20 de junho de 1969. Foi uma honra para a entidade, pois confirmava a eficácia de sua atuação anticomunista. 

Em reparação a Nossa Senhora — cuja imagem fora encontrada em meio aos escombros causados pela bomba do ódio revolucionário —, o fundador da TFP, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, estabeleceu o Oratório precisamente no local da explosão. 

No ano seguinte, todas as noites, num revezamento de hora em hora, iniciaram-se as vigílias rezando continuamente o Santo Rosário no Oratório. In loco, elas foram interrompidas em 2004, mas foram restabelecidas pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira no último dia 13 de dezembro. 

Se os terroristas tivessem previsto que no lugar da bomba nasceria um Oratório a Nossa Senhora, certamente não a teriam detonado, pois não desejariam que de seu ato de impiedade brotasse uma fonte de graças. 

Até milagres são atribuídos a essa sagrada imagem atingida pelo explosivo. Para citar apenas um: na véspera do Natal de 1972, uma senhora sofreu um grave desastre de automóvel quando se dirigia ao Rio de Janeiro. Seus parentes julgaram que ela não sobreviveria. Mas recobrou os sentidos e pediu que rezassem por ela todos os dias no Oratório. Os médicos ficaram impressionados com a rapidez de sua recuperação. Ela acredita que foi um milagre. Logo que pôde sair, a primeira coisa que fez foi ir ao Oratório para agradecer a Nossa Senhora. 
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira acende os tocheiros no início das vigílias no Oratório

Com esta breve narração, é apresentada a matéria de capa da edição deste mês da revista Catolicismo. Convidamos nossos leitores, assim como todos os católicos do Brasil e do exterior, a irem rezar diante desse abençoado Oratório — um verdadeiro monumento símbolo da fé e da disposição de resistir às forças malignas, e talvez um lugar único no mundo.

4 de março de 2025

Espírito da Quaresma nos anos jubilares

 


  Roberto de Mattei

A maioria das pessoas ignora ou esqueceu o que é a Quaresma. No entanto, o Catecismo Maior de São Pio X foi muito claro, chamando-o de "um tempo de jejum e penitência instituído pela Igreja pela tradição apostólica". No parágrafo seguinte, São Pio X explicou seus propósitos: "Tornar-nos conhecida a obrigação que temos de fazer penitência ao longo de nossas vidas; imitar de alguma forma o estrito jejum de quarenta dias, que Jesus Cristo fez no deserto; para nos prepararmos, mediante a penitência, para celebrar a Páscoa de modo santo" (n. 36).

Muitas vezes, porém, para os bons católicos que não esquecem a Quaresma, ela se reduz a algumas práticas ascéticas: jejum, mortificações, esmolas, certamente louváveis e sempre recomendadas pela Igreja, mas não suficientes para nos transmitir o espírito da Quaresma, que é sobretudo o de nos desapegarmos mais profundamente do pecado e abraçarmos a vontade de Deus com maior generosidade.

Bento XVI, na sua Mensagem para a Quaresma de 2009, recorda que nas primeiras páginas da Sagrada Escritura o Senhor ordena ao homem que se abstenha de consumir o fruto proibido: "Podeis comer de todas as árvores do jardim, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não deveis comer porque, no dia em que dela comerdes, certamente tereis de morrer” (Gn 2, 16-17). Esta injunção dada por Deus a Adão é o primeiro preceito de abstinência do alimento que o homem recebe. Comentando a ordem divina, São Basílio escreve que “‘não comerás' é, portanto, a lei do jejum e da abstinência» (Sermo de jejunioPG 31, 163, 98). Se, portanto, Adão desobedeceu ao mandamento do Senhor de "não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal", com o jejum observa ainda Bento XVI o crente pretende submeter-se humildemente a Deus, confiando na sua bondade e misericórdia" (Mensagem de 11 de Dezembro de 2008).

O espírito de penitência manifesta-se, antes de qualquer outra prática, no esforço de nos conformarmos com a vontade de Deus em todos os momentos, mesmo no momento doloroso e humilhante da nossa vidaEm 26 de março de 1950, por ocasião da Quaresma do Grande Ano Santo, Pio XII dirigiu-se aos fiéis da seguinte forma: "Saber suportar a vida! É a primeira penitência de todo cristão, a primeira condição e o primeiro meio de santidade e santificação. Com aquela dócil resignação que é própria de quem crê num Deus justo e bom, e em Jesus Cristo, mestre e guia dos corações, abraça com coragem a cruz quotidiana, muitas vezes dura. Carregá-lo com Jesus torna seu peso leve”.

O esforço para unir nossa vontade com a vontade de Deus precede toda prática ascética. Por isso, Jesus destaca o motivo profundo do jejum, estigmatizando a atitude dos fariseus, que observavam escrupulosamente as prescrições rituais impostas pela lei, mas seus corações estavam longe de Deus. O verdadeiro jejum, explica o divino Mestre, é antes fazer a vontade do Pai celeste, que vê no secreto e vos recompensará” (Mt 6, 18). Ele mesmo dá um exemplo disto, respondendo a Satanás, no final dos quarenta dias transcorridos no deserto, que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4). O verdadeiro jejum, conclui Bento XVI, tem por finalidade comer o "verdadeiro alimento", que é fazer a vontade do Pai” (cf. Jo 4, 34).

Aqueles que amam a vontade do Pai detestam o pecado, que é a violação da lei divina. E assim, neste tempo de Quaresma do Jubileu de 2025, como não fazer nossas as palavras que Pio XII dirigiu aos fiéis de todo o mundo para prepará-los para a Quaresma do Jubileu de 1950:

“Meça, se seus olhos e espírito o seguram, com a humildade de quem talvez deva reconhecer parte da responsabilidade, o número, a gravidade, a frequência dos pecados no mundo. Obra própria do homem, o pecado envenena a terra e desfigura a obra de Deus como uma mancha impura. Pense nas inúmeras falhas privadas e públicas, ocultas e abertas; aos pecados contra Deus e sua Igreja; contra si mesmo, na alma e no corpo; contra o próximo, particularmente contra as criaturas mais humildes e indefesas; finalmente, aos pecados contra a família e a sociedade humana. Alguns deles são tão inéditos e hediondos que novas palavras foram necessárias para indicá-los. Pese sua gravidade: aqueles cometidos por mero descuido e aqueles conscientemente premeditados e friamente perpetrados, aqueles que arruínam uma única vida ou que, ao contrário, se multiplicam em cadeias de iniquidade até se tornarem a maldade de séculos ou crimes contra nações inteiras. Confrontai, à luz penetrante da fé, este imenso montão de baixeza e covardia com a santidade luminosa de Deus, com a nobreza do fim para o qual o homem foi criado, com os ideais cristãos pelos quais o Redentor sofreu dor e morte; e então diga se a justiça divina ainda pode tolerar tal distorção de sua imagem e desígnios, tanto abuso de seus dons, tanto desprezo por sua vontade e, acima de tudo, tanta zombaria do sangue inocente de seu Filho.

“Vigário daquele Jesus, que derramou até a última gota de seu sangue para reconciliar os homens com o Pai celeste, Cabeça visível daquela Igreja que é seu Corpo Místico para a salvação e santificação das almas, exortamo-lo a sentimentos e obras de penitência, para que o primeiro passo para uma reabilitação moral eficaz possa ser dado por você e por todos os nossos filhos e filhas espalhados pelo mundo da humanidade. Com todo o ardor de Nosso coração paterno, pedimos que você se arrependa sincera dos pecados passados, repugnância total do pecado, firme resolução de arrependimento; imploramos que assegureis o perdão divino através do sacramento da confissão e do testamento de amor do divino Redentor; enfim, rogamos-vos que alivieis a dívida das penas temporais devidas aos vossos pecados com as numerosas obras de satisfação: orações, esmolas, jejuns, mortificaçõesdas quais o próximo Ano Santo oferece uma ocasião fácil e um convite".

3 de março de 2025

CARNAVAL — ALGUMAS VERDADES ESQUECIDAS SOBRE ERROS ESQUECIDOS

 


✅  Paulo Roberto Campos

Há incontáveis comentários de Santos sobre os danos causados nas almas nos dias de Carnaval, insuflados pelo demônio para perdê-las eternamente. 

Aqui reproduzirei apenas três severos comentários, a fim de meditarmos em tais dias de folia pecaminosa e para fazermos alguma reparação a Nosso Senhor Jesus Cristo e Sua Mãe Santíssima, e também para favorecer nossa salvação eterna. 

“No tempo de carnaval, após a comunhão o Senhor se apresentou a mim sob a forma do Ecce Homo, carregando a cruz, todo coberto de chagas e ferimentos. O Sangue adorável corria de toda parte, e Ele dizia com voz dolorosamente triste: ‘Não haverá ninguém que tenha piedade de mim, queira compadecer-se e tomar parte na minha dor, no lastimoso estado em que me põem os pecadores, sobretudo agora?’” 
(Santa Margarida Maria Alacoque) 

“O carnaval é um tempo infelicíssimo, no qual os cristãos cometem pecados sobre pecados, e correm à rédea solta para a perdição.” 
(São Vicente Ferrer) 

“Nestes tristes dias [do Carnaval] os cristãos, e quiçá entre eles alguns dos mais favorecidos, trairão como Judas o seu divino Mestre e O entregarão nas mãos do demônio. Eles O trairão, já não às ocultas, mas nas praças e vias públicas, fazendo ostentação de sua traição! Eles O trairão, não por trinta dinheiros, mas por coisas mais vis ainda: pela satisfação de uma paixão, por um torpe prazer, por um divertimento momentâneo!” 
(Santo Afonso Maria de Ligório)

1 de março de 2025

Exposição da Cátedra usada por São Pedro

 


O altar feito por Bernini para a Cátedra de Pedro na basílica vaticana encerra a milenar cadeira usada pelo Príncipe dos Apóstolos. 

O troneto-relíquia é de madeira e está em restauração. 

O arcipreste da Basílica de São Pedro, Cardeal Mauro Gambetti, explicou que o troneto está sendo estudado cientificamente e, se as condições o permitirem, ficará exposto à veneração dos fiéis. 

Na sua comovedora fragilidade, o troneto ‘brada’ aos fiéis que o Papado, monarquia divina instituída por Jesus Cristo, venceu os piores fatores de erro e corrupção que se levantaram contra ela ao longo dos milênios.

23 de fevereiro de 2025

O aborto animaliza as pessoas, afirma bispo espanhol


O Ministério da Saúde espanhol publicou que em 2022 eram aguardados 428.208 bebês, mas só 329.892 conseguiram chorar, sorrir e abrir os olhos, pois os restantes — quase 100 mil — foram abortados. 

De modo contraditório, vigora simultaneamente no país a Lei do Bem-Estar Animal

O bispo de Orihuela-Alicante, Dom José Ignacio Munilla [foto], exclamou: “Quando a pessoa é animalizada, trata-se o animal como pessoa” e tira-se cruelmente a vida de um ser humano indefeso alegando um ‘direito’! 

Em certo sentido, pior do que o aborto é a animalização que esse crime acarreta. A aceitação social dessa degradação é a pior desgraça de nosso século.

16 de fevereiro de 2025

AS GUERRAS, A CRUELDADE E A BONDADE

 

Cenário dramático após a bomba atômica no Japão

  Plinio Corrêa de Oliveira 

Há guerras porque se diminuiu entre os homens a virtude bondade? 

As guerras vão se tornando cada vez mais cruéis. As guerras de Napoleão — em fins do século XVIII e nos primórdios do século XIX — foram enormes, mas não foram mundiais, foram guerras europeias. Na época, uma novidade, pois arrastou um continente inteiro. 

Depois vieram, no século XX, as guerras mundiais. Depois destas, temos as ameaças de guerras atômicas planetárias. 

O furor das guerras foi crescendo cada vez mais e o furor dos homens foi crescendo no mesmo passo que o das guerras, e à medida que se diminuía a bondade. Uma ação recíproca: as guerras aumentando, o furor dos homens aumentava; mas o furor dos homens aumentando, o furor das guerras aumentava. 

Antes de Nosso Senhor Jesus Cristo pregar sua doutrina na Terra, a ferocidade entre os homens era uma coisa fantástica. Os assírios, por exemplo, promoviam guerras para fazer prisioneiros e, em certos casos, furavam os olhos deles para trabalharem duramente, sem haver a possibilidade de fuga. Uma maldade e crueldade incríveis! 

Com a pregação do Evangelho, os homens foram sendo civilizados e a virtude da bondade ia predominando. 

Mas com a rejeição do Evangelho, podem as guerras ser eclodidas por castigo de Deus, assim como a propagação de epidemias. 

A conclusão poderia ser: quanto mais a humanidade se afasta de Cristo Rei, mais diminui a bondade e as guerras se tornam mais cruéis, com o que a bondade é mais reduzida, produzindo um círculo vicioso. 

____________
Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 1º de maio de 1994. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

14 de fevereiro de 2025

CONCHITA FUENTES — sábio conselho da provecta influencer católica


  Paulo Roberto Campos 

A respeito do sacramento do matrimônio, viralizou conselhos de Conchita Fuentes, residente em Granada (Espanha), mas nascida em Madrid. Ela tem cinco filhos, nove netos e três bisnetos. 

Geralmente, ela fala de recordações de tempos passados, particularmente lembranças familiares, mas recentemente fez um vídeo falando da alegria, do sacrifício, da importância e da maravilha de vida daqueles que não se separaram após o casamento. 

Do alto dos seus 91 anos, suas valorosas e sinceras reflexões sobre a beleza da vida matrimonial, quando se respeita a Lei de Deus, causaram comoção nas redes sociais e fortificaram a fé de muitos, sobretudo de casais. 

Com ajuda técnica de uma neta de 17 anos, a elegante madrilena conta com 172 mil seguidores no Instagram, que ela os chama de “preciosos e queridíssimos”, pelos quais ela reza. Certa vez afirmou: “Minha oração está sempre focada no bem da minha alma e dos outros e quero que cada um que me vê saia melhor. Devo orar por cada um deles.” 

Com seu último vídeo, com o qual conquistou muito mais seguidores — alcançou mais de 1 milhão de visualizações, recebeu mais de 60 mil curtidas e uma quantidade enorme de comentários — Dona Conchita respondeu à seguinte questão: 

— "O que a senhora recomendaria aos jovens sobre o casamento?" 


— "Eles não sabem o que estão perdendo. O casamento é ordem, o casamento é alegria e, claro, sacrifício. Mas é algo maravilhoso. Não sei por que as pessoas hoje em dia não querem se comprometer. Não há nada melhor no mundo do que o compromisso e a seriedade. É daí que nascem a alegria, a esperança e os filhos – e como precisamos de mais filhos! Sou apaixonada pelo casamento. Sei que há momentos difíceis, mas eles podem ser superados. E, claro, devemos estar dispostos a tudo." 

Alguns comentários de seguidores, que extraí no Instagram dela: 

"Simples, clara e acertada! Impecável, como sempre!" 

"Concordo plenamente! Meu casamento teve desafios, mas fui muito feliz. Tenho lindas lembranças do meu esposo e sou grata por ter tido seis filhos e netos." 

"Que elegância, o que diz me encanta". 

"Lembra-me minha avó! Amo meu esposo e em dezembro completamos 25 anos juntos. Concordo totalmente com ela". 

"Eu também sou encantada pelo matrimônio". 

"Dou testemunho disso, já estou sete anos casada". 

"Fez-me chorar. Que beleza e quão acertado o que diz essa bela senhora. Todo meu respeito!” 

“O casamento é lindo, mesmo com tudo que a convivência diária acarreta, não é fácil, claro que não, digo com firmeza, muitas vezes a gente quer dizer basta, mas aí a gente respira e no silêncio você pede a Deus sabedoria, serenidade, paciência para resolver o problema que a pessoa pode estar passando e a paz chega e conversa com o seu marido e a gente percebe que tudo tem solução". 

"Fui casada por 50 anos até a morte do meu marido e me lembro dele todos os dias".

Termino com outro conselho de Dona Conchita sobre uma longa existência terrena. Ela diz que podemos todos chegar ao último dia de nossas vidas como um “Bom vinho Jerez: sendo útil, sendo elegante, não sendo vinagre, sendo vinho”...


11 de fevereiro de 2025

71º milagre ocorrido em Lourdes

 


Recente confirmação da cura, oficialmente reconhecida como milagrosa, do soldado John Traynor, da Marinha Real Britânica.

 

✅  Afonso de Souza

Fonte: Revista Catolicismo, fevereiro/2025

 

John Traynor
com uniforme de marinheiro
No dia 8 de dezembro passado, festa da Imaculada Conceição, Dom Malcolm McMahon, Arcebispo de Liverpool (Inglaterra), comunicou a cura milagrosa do soldado da Marinha Real Britânica, John Traynor, no 81º aniversário de sua morte.

        Esse foi o 71º milagre ocorrido em Lourdes a ser aprovado, depois de o Dr. Alessandro de Franciscis ter pedido, no ano passado, a revisão do caso Traynor, realizada pelo médico inglês Dr. Kieran Moriaty, membro do Comitê Médico Internacional de Lourdes.

Em sua pesquisa, o Dr. Moriaty descobriu várias pastas nos arquivos de Lourdes, que incluíam os depoimentos dos três médicos que naquela época examinaram Traynor antes e depois de sua cura, juntamente com outras evidências.

Isso levou a que o caso de Traynor fosse declarado não explicável pela ciência médica e considerado milagroso pela Igreja.

O arcebispo Dom McMahon declarou: “Dado o peso das evidências médicas, o testemunho da fé de John Traynor e sua devoção a Nossa Senhora, é com grande alegria que declaro que a cura de John Traynor, de múltiplas condições médicas graves, deve ser reconhecida como um milagre realizado pelo poder de Deus por meio da intercessão de Nossa Senhora de Lourdes.”

         O fato de o Arcebispo de Liverpool declarar depois de tanto tempo que a cura do militar inglês pode ser considerada milagrosa, mostra todo o rigor da Igreja em aprovar um milagre. Para se ter ideia disso, constate-se que o Bureau Médico de Lourdes, encarregado de analisar as possíveis curas tidas por milagrosas, registrou, desde 1905, sete mil curas “medicamente inexplicáveis”. Entretanto, destas, só 70 foram declaradas “milagrosas” pela Igreja.

John Traynor ainda debilitado sobe no trem em Lourdes e desce em Liverpool, após a cura milagrosa, levando sua antiga cadeira de rodas

De família profundamente católica

John Traynor nasceu em Liverpool, em 1883, de mãe irlandesa. Ela faleceu quando ele ainda era jovem. Em seu testemunho apresentado no site do santuário, Traynor afirma que “sua devoção à Missa e à Sagrada Comunhão e sua confiança na Mãe Santíssima permaneceram com ele como uma memória e um exemplo frutífero”. Pois sua mãe era, naquela época, “comungante diária quando poucas pessoas o eram”.

Consequências das batalhas

Em 1940, John Traynor na sua última visita
a Lourdes (no centro)
No início da Primeira Grande Guerra (1914-1918), participando no sítio de Antuérpia como membro da Reserva da Marinha Real, John Traynor foi atingido na cabeça por estilhaços ao tentar carregar um oficial para fora do campo. Recuperando-se rapidamente, voltou ao serviço.

         Em 25 de abril de 1915, ele participou de um desembarque anfíbio nas costas de Galípoli, como parte de uma tentativa mal-sucedida das tropas britânicas e francesas de capturar a península na Turquia ocupada pelos otomanos. Traynor foi dos poucos soldados a chegar à costa naquele primeiro dia, apesar do ataque de fogo de metralhadora pelas forças turcas que estavam no topo de barrancos íngremes junto à praia. Por mais de uma semana ele permaneceu ileso enquanto tentava liderar o pequeno contingente que sobrevivera ao ataque.

Entretanto, no dia 8 de maio o destemido militar recebeu uma rajada de metralhadora na cabeça, no peito e no braço, durante uma carga de baioneta. Seus ferimentos o deixaram com o braço direito paralisado e o tornaram suscetível a ataques epiléticos. Os médicos tentaram várias cirurgias para reparar os nervos danificados em seu braço e tratar dos ferimentos na cabeça que se acreditava serem a causa de sua epilepsia, mas sem sucesso.

         Tendo sido considerado “completa e incuravelmente incapacitado”, oito anos depois da batalha Traynor foi designado para internação em um hospital para incuráveis. Ele, entretanto, ignorando os apelos da esposa, dos médicos e sacerdotes, insistiu em participar da peregrinação de sua paróquia a Lourdes, de 22 a 27 de julho de 1923.

Efeito dos banhos nas piscinas

John Traynor após o milagre
“Levanto sacos de carvão que
pesam quase 100 qauilos”
Nos três primeiros dias da viagem, Traynor esteve gravemente doente. Já em Lourdes, enfrentando a resistência de seus cuidadores, conforme ele afirma em seu depoimento, “conseguiu ser banhado nove vezes na água da piscina da gruta”.

No segundo dia em Lourdes, o militar sofreu um severo ataque epilético enquanto era levado à piscina. Diz ele: “Sangue escorria da minha boca, e os médicos ficaram muito alarmados”. Mas quando tentavam levá-lo de volta ao seu alojamento, Traynor se recusou, puxando os freios da cadeira de rodas com sua mão sadia. Então, afirma ele em seu depoimento, “eles me levaram para o banho e me banharam da maneira usual. Nunca mais tive um ataque epilético depois disso”.

Quando estava na piscina no dia seguinte, sentiu que sua perna direita, até então paralisada, tornou-se “violentamente agitada”, e ele sentiu como se tivesse recuperado o uso dela. Como deveria retornar para a procissão eucarística, os seus cuidadores, que acreditavam que ele estava tendo outro ataque epilético, levaram-no às pressas para a igreja do Rosário.

Lá, quando o Arcebispo de Reims passou por ele com o Santíssimo Sacramento, também seu braço direito foi “violentamente agitado”. Então ele rompeu suas bandagens e fez o Sinal da Cruz, pela primeira vez em oito anos.

Sentindo-se curado, na manhã seguinte Traynor pulou da cama e correu para a gruta. Diante da imagem da Virgem, ele disse: 

“Minha mãe sempre me ensinou quando alguém pede um favor a Nossa Senhora ou deseja mostrar a Ela alguma veneração especial, deve fazer um sacrifício”. Então, continua,“eu não tinha dinheiro para oferecer, pois havia gastado meus últimos shillings em rosários e medalhas para minha esposa e meus filhos. Mas, ajoelhado diante da Mãe Santíssima, fiz o único sacrifício que pude pensar: resolvi parar de fumar”.

Imagem de Nossa Senhora na gruta das aparições


Conclui Madalaine Elhabbal, no artigo em que nos baseamos:

“Na manhã de 27 de julho, Traynor foi examinado por três médicos, os quais descobriram que ele havia recuperado sua capacidade de andar perfeitamente, assim como o uso e a função completos de seu braço e perna direita. As feridas em seu corpo haviam cicatrizado completamente e seus ataques epiléticos cessaram. Uma abertura em seu crânio, criada durante uma de suas cirurgias, também havia diminuído consideravelmente.

“Um dos relatórios oficiais emitidos pelo Bureau Médico de Lourdes em 2 de outubro de 1926 — mais tarde descoberto por Moriarty — afirma que a ‘cura extraordinária de Traynor está absolutamente além e acima dos poderes da natureza’.”1

Traynor teve três filhos após sua cura; deu a uma das filhas o nome de Bernadette. Acredita-se que John Traynor seja o primeiro católico britânico a ser curado em Lourdes, de acordo com o site do santuário.

____________

Notas:

Healing at Lourdes of British World War I soldier declared ‘miraculous’ By Madalaine Elhabbal Catholic News Agency Dec 10, 2024. https://www.catholicnewsagency.com/news/260945/healing-at-lourdes-of-british-world-war-i-soldier-declared-miraculous?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=catholic_news_healing_at_lourdes_of_british_world_war_i_soldier_officially_declared_miraculous&utm_term=2024-12-10

10 de fevereiro de 2025

BOLO NO ESPETO


  Jorge Vicente Saidl 

“Bolo no espeto” soa realmente muito estranho em português. No entanto, é a tradução literal de “gâteau à la broche”, expressão francesa que designa uma muito bela e saborosa tradição culinária lituana.

Porque um bolo lituano com nome francês? No fim do artigo vai ficar claro. 

Espeto não é bem o termo adequado, porque a iguaria é preparada num torno, como se pode ver na ilustração, e, ademais, sobre o eixo há um cone. 

A massa é derramada sobre o cone, junto ao fogo, fazendo com que, à medida em que o torno vai girando, vá espirrando e se solidificando, formando pontas como se fossem galhos, daí o termo lituano “šakotis“, derivado de “šaka“ (galho de árvore). 

O bolo, depois de pronto, é retirado do eixo, ficando parecido com o galho de uma de árvore. 

O “bolo no espeto” tem várias versões em diferentes países, porém são cilíndricos simplesmente e não têm os “galhos”. 

Com uma receita que leva muitos ovos, fica com coloração amarelada e tem mais propriamente a consistência de um biscoito. 

Enquanto na Alemanha a versão local chamada de “Baumkuchen” é servida mais no Natal, e talvez mais ou menos o mesmo aconteça com os “parentes” de outros países, o “šakotis”, que em princípio é destinado a ocasiões especiais, é enormemente difundido na Lituânia e não há supermercado onde não se encontre mais de uma marca do produto. 

Passando-se a fronteira da Lituânia, já não mais se vê. 

Entretanto, é surpreendente encontrá-lo na sua versão francesa, num canto da França, perto de Lourdes. 

No Château Fort Musée, dessa importante cidade mariana, está a explicação: Numa das salas do museu se encontra uma representação do torno para o feitio do bolo e uma placa explicando que, passando pela Lituânia, as tropas napoleônicas levaram a receita para seu país natal. Curiosamente que só para este extremo sul do território francês. Apenas um ou alguns soldados franceses da região dos Pirineus se interessaram pela receita. Talvez outros tiveram interesse, mas estavam muito apressados para deixar o território então russo ou caíram no campo de batalha. Em terras francesas, o “Šakotis” que poderia se chamar “Chacotis”, entretanto foi batizado com o nome de “gâteau a la broche”

O Šakotis talvez deva ser considerado o principal manjar doce lituano. 

Dos salgados, o prato principal é provavelmente o Didžkukuliai, mais conhecido como Cepelinai, por ter o formato de um balão Zeppelin. Mas isso é outra questão, que poderia ser tema para um próximo artigo.